Não podemos mais supor que nossa cultura seja religiosa. Nos inícios da
Igreja, a cultura era pagã. Hoje temos uma mistura de cristianismo e de
paganismo. Lá, os cristãos eram perseguidos e mortos pela espada, hoje são
perseguidos e enfraquecidos pela cultura do bem-estar, do individualismo, do
prazer segundo o gosto do consumidor.
A realidade secularizada
não consegue, porém, vencer a fome de espiritualidade. Enquanto muitos decidem
não mais pertencer à Igreja, nem ser chamados de cristãos, outros se agarram à
fé. Os que são vítimas do consumismo vivem sob a “tirania do trabalho e do
stress”, fazem da Páscoa um feriadão, com compra de ovos de chocolate e de
bacalhau. Outros vivem profundamente o mistério pascal.
Hoje vivemos certa
“balbúrdia religiosa” feita de fundamentalismo, tradicionalismo,
conservadorismo. Por outro lado, o profetismo, a libertação, os valores do reino,
a experiência eclesial, a compaixão e a gratidão são expressões da dimensão
social da fé. Para estes cristãos conscientes e discípulos do Senhor, a Páscoa
é um acontecimento inaudito, uma surpreendente e alegre noticia porque é o
centro, o coração, o âmago do cristianismo.
O que é a Páscoa? É a
grande prova do amor extremado de Deus pelo mundo. É a resposta de Deus ao
nosso pecado. É a festa da misericórdia que põe fim ao mal, ao mau uso da
liberdade e da morte! Sem a páscoa o cristianismo seria apenas fracasso,
falência, mentira, ilusão, engano. A Páscoa é a festa da verdade e do
fundamento do cristianismo. O Pai, na ressurreição do seu filho, confirma a
pessoa, a ação, a doutrina de Jesus. A Páscoa é a confirmação do Evangelho,
assim podemos colocar nele toda nossa confiança e esperança.
A morte e ressurreição de
Jesus são remédios do amor de Deus, que curam a ferida de pecado original que é
o pecado. A fé na ressurreição é uma grande motivação das nossas lutas pela
dignidade, saúde e salvação da pessoa humana. Vencida a morte, nós somos
tomados de coragem, ousadia e audácia, para vencer os outros males.
A Páscoa gera em nós
sentimentos de gratidão, gratuidade e alteridade. A religião não é apenas
obrigação, mas, admiração, atração, comoção e encantamento por Deus. A
cordialidade e a amabilidade são frutos da Páscoa enquanto festa da alegria e
da esperança. Tudo tem sentido e valor. Somos conquistados por Cristo Jesus. Há
uma reviravolta em tudo, graças à Páscoa. Tudo tem sabor de vida, de esperança
e de futuro. A ressurreição nos leva à convicção de nossa grandeza. Não podemos
mais duvidar, pois somos realmente e definitivamente amados e salvos. Corações
ao alto. Exultemos de alegria. O Deus suspenso na cruz agora vive. Faz tudo
isso por nós e para nós.
Como é diferente a Páscoa
feriadão, da Páscoa cristã. Ser testemunha da ressurreição é lutar pela vida,
levar a alegria aos outros, saber consolar, apontar soluções, olhar para
frente, recomeçar sempre, não se cansar de fazer o bem. Que a celebração deste
ministério nos leve à missão: “Do mistério ao ministério”.
Tirou-nos do túmulo, do abismo, do
lixo, da lama e do pó. Ele é o Senhor da Vida e da história que cura os
doentes, consola os tristes, sana a memória com o perdão, acolhe os estranhos,
perdoa pecadores, salva do mal. Jesus é a maior fascinação da humanidade. Ao
ensinar-nos o Pai Nosso convidou-nos a sete relacionamentos saudáveis, ou
melhor, relacionamentos pascais: relação de filiação com o Pai, relação de
fraternidade com os irmãos, relação de serviço com os irmãos, relação de
partilha na sociedade, relação de perdão na convivencia, relação de prudência
para vencermos as tentações e relação de liberdade: livres do mal.
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